domingo, 21 de março de 2010

No centro da Ponte Grande

O primeiro sinal de trânsito – semáforo – instalado na Ponte Grande data de 1974. Ele foi implantado na Avenida Guarulhos com os cruzamentos das ruas Luís Bento Damiani com Pedro Perella. No local, já àquela época, existiam alguns estabelecimentos comerciais os quais davam ao bairro uma aparência de um centrozinho, à imitação em miniatura da Penha ou do centro de Guarulhos.

O semáforo ficava (creio que ainda fica) justamente no centrozinho comercial. A direita de quem segue da Penha para Guarulhos, em frente ao farol, também existia uma agência do Banco Noroeste. Este ficava no térreo de um sobrado. Tinha as paredes pintadas em ocre e uma porta de vidro. Passei várias horas na fila daquele estabelecimento bancário, mas gostava porque o ar condicionado no recinto aplacava o calorão lá de fora.

Do outro lado da Avenida, na esquina com Luís Damiani, no alto de um sobrado com paredes cobertas de pastilhinhas coloridas, havia a escola de datilografia Centauros. Foi ali onde aprendi a datilografar. Não me recordo o nome da professora. O que ficou em minha mente sobre ela, além dos traços esbeltos, cabelos curtos e a meia idade, foi a imensa simpatia e a paciência com que nos ensinava a datilografar, usando corretamente os dedos no teclado das máquinas Remington, só depois, quando o aluno estava bem treinado, podia sentar-se diante de uma Olivetti. Numa das cópias de lição, constava no timbre: Cerâmica Jaboticabal. Nome repetido inúmeras vezes até a prática de datilografista ser aperfeiçoada.

Ali também havia aviculturas que vendiam frangos e codornas vivas ou abatidas. De vez em quando, eu dava uma paradinha em frente às gaiolas pra ficar vendo as codorninhas a comerem e sempre cantando. Achava-as tão bonitinhas! Dava-me vontade de comprá-las pra criar em casa, mas me deparava com um problema: não havia espaço. Queria as avezinhas apenas como bichinhos de estimação, não achava legal aquele papo de levarem às coitadinhas pra panela. Quantos às galinhas, tudo bem. Quando era criança, minha avó me falou que elas são os bichos mais idiotas que existem no mundo animal. São capazes de ficarem vários meses deitadas em cima de um búzio, chocando, como se fosse um ovo. É uma febre, dizia vovó, fácil de curar. Basta dar um banho de água fria nela e, pronto, no outro dia, acaba-se o choco! Em minha opinião, era por isso que elas tinham um fim tão indigno.

Pra quem não gostava de franco empenado, ou seja, vivo, havia uma solução mais atraente e gostosa. Um pouco mais à frente da avicultura, havia a Doceira Ponte Grande. Era uma beleza. Lá se misturavam os aromas dos frangos assados (na televisão de cachorro) com a visão de belos doces expostos na vitrine. Eram chocolates, sonhos, confetes, doces esverdeados, amarelos, marrons, enfim, uma variedade tremenda de guloseimas. Era realmente de encher a boca d’água.

Mas, não só de frangos e doces era o comércio da Ponte. Havia também o Supermercado Zás-Trás. Que barato! Nunca vi um nome tão sugestivo. Para mim, ali tudo era especial, desde as embalagens, que traziam a figura de um coelhinho dentuço, empurrando um carrinho de compras, ao local com todas as mercadorias expostas em gôndolas. Ficava no térreo de um pequeno prédio de uns quatro ou cinco andares. Nesse prédio morava minha professora de Educação Moral e Cívica.

Só isso? Não! Havia farmácias, serralherias, restaurantes, bazares, escritórios de contabilidade e até consultório de dentista.

O meu cunhado trabalhava no Frigorífico Ibérico. Este ficava no início da Avenida Guarulhos, bem no começo da Ponte. Foi um dos locais de que ele mais gostou de trabalhar, apesar de ser pela noite. Na frente do frigorífico, ficava o açougue. Acima do balcão onde ficavam as carnes congeladas eu lia o preço e os tipos de corte: alcatra, lagarto, acém, picanha, pescoço, costela, ih! Era tanto tipo que me davam enjoo. Cansava e pra variar, meus olhos se detinham num letreiro com letras graúdas: FRIGORIFICO IBERICO. Depois o açougueiro me entregava um pacote de carne moída.

No começo da Avenida, confluência da Rua João Teruel Fregoni, o trânsito costumava congestionar. Pra resolver o problema, surgia o guarda Ubiratan (ou Ubirajara não me recordo bem) e tentava por ordem ao caos. Era uma figura estranha. Vestia-se à moda Chacrinha, possuía uma bicicleta enfeitada e era muito benquisto pelos motoristas. Estes respeitam muito o guarda excêntrico e sempre buzinavam quando passavam por ele.

2 comentários:

  1. Gil, devo lhe comfesar que estou estupefato com sua "memória", de fato não poderia deixar de fora que essa palavra da origem ao tema: Memória & contos da ponte grande _ guarulhos, né? Então meu caro, como já postei outra vez, volto a dizer que você é um senhor "Observador", consequêntimente um bom escritor. estou aqui aprendendo com o senhor.É de suma importância resaltar a imensidão dos detalhes com que você desenvolve seus textos, assim fica mais fácil entender vários aspectos, até mesmo de ordem econômica e social, já que você descreve bem a politica do ambiente. Esses aspectos citados leh conferem um título de bom historiador, por passar traços de uma época, podendo ser compardas com nossa época. O centro da ponte Garnde é uma descrição genuína do avanço geográfico, politico e social.

    por: Verde

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  2. Muito bom ... me lembro de muitas coisas citadas ... parabéns abs Elmi

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