domingo, 15 de novembro de 2009

QUEIJO ‘BATIZADO’

Carmelita morava na Ponte Grande, mas costuma visitar Nivalda, uma amiga também nordestina, que morava num velho casarão, da Rua Gomes Cardim no Brás. O casarão era um cortiço, abrigava várias famílias, quase todas oriundas do Nordeste.

Vizinho à casa de Nivalda, ou melhor, ao cômodo em que moravam, residia um vendedor de queijo. O mal-cheiro que dali saia era insuportável. Impregnava toda a vizinhança.

Às vezes, Nivalda e a amiga queriam sair da rotina pão-com-manteiga e comerem um queijinho. Uma olhava para outra, dava uma piscadela e dizia:

- Que tal comprar queijo na queijaria do vizinho?

É claro que elas não queriam o queijo dele, era só brincadeira. E lá se ia uma delas comprar queijo numa padaria da Rua Oriente.

Não só elas, vizinhas da queijaria improvisada, tinham receio do produto vendido naquele local, mas todos os demais moradores agiam da mesma forma.

Especulava-se muito por que o lugar era tão fedorento, no entanto, nada se sabia sobre o fato. Na ausência de uma explicação plausível, as mentes mais férteis tratavam de tecer teorias infundadas. Para uns, o mau-cheiro advinha do ambiente úmido e mal iluminado do velho prédio; outros diziam que era devido ao soro do queijo ao ser derramado, molhava o soalho de madeira.

A verdade é que se Antonino, o queijeiro, dependesse delas, não vendia um grama de seu produto alimentício. Mas isso não era problema. Todos os dias chovesse ou fizesse sol, ele jogava uma sacola às costas e saia logo cedo atender à clientela. Certamente usaria como argumento:

- Queijo fresquinho! Diretamente das Minas Gerais pra São Paulo! Comprem e se deliciem!

- Cruzes! Se soubessem de onde aquele queijo saia, não o queriam nem de graça.

Certa vez, a Nivalda teve vontade de visitar uma prima que morava para as bandas de Vila Formosa. Convidou Carmelita. E num domingo ensolarado, puseram-se num ponto de ônibus à espera do coletivo que as conduziria à Vila.

Finalmente, chegou o ônibus.

- Vamos, vamos! Chamou a Nivalda.

Carmelita, que nunca andara de ônibus elétrico, recusou-se a ir.

- Deixe de bobagens, mulher! Isso nunca incendiou, não será hoje que irá pegar fogo com você dentro.

- Sei lá! Só vejo esse troço soltando faíscas pelos fios!

Entraram na condução, no princípio, Carmelita estava amedrontada, mas relaxou e se descontraiu. Até que achou bom. Tudo limpinho, os bancos acolchoados, durinhos. Uma maravilha!

Entra rua, dobra esquina, sai em outra, quando do fundo do ônibus, Carmelita avistou o Antonino e sua sacola de queijos. Cutucou a Nivalda e mostrou-lhe quem ia com elas.

- Comadre – disse a Nivalda – você não sabe o que Pedrinho, o outro nosso vizinho, descobriu sobre o queijeiro!

E contou bem baixinho no ouvido de Carmelita:

- Pedrinho olhou pelo buraco da fechadura e viu o Antonino urinando sobre a pilha de queijos.

- Ah! Mas isso é demais! Por isso o mau cheiro, comadre! Bicho nojento!

- Pois é. Dizem que urina é ótimo para curar queijos.

- Credo! Que nojo!

Chegando à casa da parenta de Nivalda, passaram uma manhã agradável entre conversas e brincadeiras, ao meio-dia, almoçaram comidas típicas do Nordeste e beberam suco de umbu.

A tarde foi igual a parte da manhã, bem descontraída.

Por volta das três horas, as duas amigas prepararam-se para o retorno.

- Não sem antes fazermos um lanche. – disse a dona da casa.

Comeram biscoitos de Caruaru, bolo de macaxeira e, para variar, um gostoso queijo.

- Comam, comam à vontade! Deste, vocês nunca comeram. Vem diretamente do sertão pernambucano – falou a anfitriã, olhando para as visitas.

- De que casa do Norte você compra este queijo? Perguntou Nivalda.

- Bem, este queijo eu compro de um senhor que mora no Brás. Ele me garantiu que vem fresquinho do Nordeste.

- Ah, é? Qual o nome do vendedor?

- O nome dele... é ... deixe-me ver! ... é Antonino!

- Seu Antonino!!!? – responderam as visitantes arregalando os olhos.

- É. Por quê?

- Pois, nós o conhecemos!! – disseram as visitantes assustadas.

Despediram-se da dona da casa e foram embora. Ela não entendeu o motivo de tanta pressa. Se o lanche estava bom, poderiam comer um pouco mais!

Aos engulhos, Nivalda e Carmelita chegaram em casa. Não tiveram mais apetite para jantar naquela noite.

E queijo, nunca mais.

Carmelita morava na Ponte Grande, mas costuma visitar Nivalda, uma amiga também nordestina, que morava num velho casarão, da Rua Gomes Cardim no Brás. O casarão era um cortiço, abrigava várias famílias, quase todas oriundas do Nordeste.

Vizinho à casa de Nivalda, ou melhor, ao cômodo em que moravam, residia um vendedor de queijo. O mal-cheiro que dali saia era insuportável. Impregnava toda a vizinhança.

Às vezes, Nivalda e a amiga queriam sair da rotina pão-com-manteiga e comerem um queijinho. Uma olhava para outra, dava uma piscadela e dizia:

- Que tal comprar queijo na queijaria do vizinho?

É claro que elas não queriam o queijo dele, era só brincadeira. E lá se ia uma delas comprar queijo numa padaria da Rua Oriente.

Não só elas, vizinhas da queijaria improvisada, tinham receio do produto vendido naquele local, mas todos os demais moradores agiam da mesma forma.

Especulava-se muito por que o lugar era tão fedorento, no entanto, nada se sabia sobre o fato. Na ausência de uma explicação plausível, as mentes mais férteis tratavam de tecer teorias infundadas. Para uns, o mau-cheiro advinha do ambiente úmido e mal iluminado do velho prédio; outros diziam que era devido ao soro do queijo ao ser derramado, molhava o soalho de madeira.

A verdade é que se Antonino, o queijeiro, dependesse delas, não vendia um grama de seu produto alimentício. Mas isso não era problema. Todos os dias chovesse ou fizesse sol, ele jogava uma sacola às costas e saia logo cedo atender à clientela. Certamente usaria como argumento:

- Queijo fresquinho! Diretamente das Minas Gerais pra São Paulo! Comprem e se deliciem!

- Cruzes! Se soubessem de onde aquele queijo saia, não o queriam nem de graça.

Certa vez, a Nivalda teve vontade de visitar uma prima que morava para as bandas de Vila Formosa. Convidou Carmelita. E num domingo ensolarado, puseram-se num ponto de ônibus à espera do coletivo que as conduziria à Vila.

Finalmente, chegou o ônibus.

- Vamos, vamos! Chamou a Nivalda.

Carmelita, que nunca andara de ônibus elétrico, recusou-se a ir.

- Deixe de bobagens, mulher! Isso nunca incendiou, não será hoje que irá pegar fogo com você dentro.

- Sei lá! Só vejo esse troço soltando faíscas pelos fios!

Entraram na condução, no princípio, Carmelita estava amedrontada, mas relaxou e se descontraiu. Até que achou bom. Tudo limpinho, os bancos acolchoados, durinhos. Uma maravilha!

Entra rua, dobra esquina, sai em outra, quando do fundo do ônibus, Carmelita avistou o Antonino e sua sacola de queijos. Cutucou a Nivalda e mostrou-lhe quem ia com elas.

- Comadre – disse a Nivalda – você não sabe o que Pedrinho, o outro nosso vizinho, descobriu sobre o queijeiro!

E contou bem baixinho no ouvido de Carmelita:

- Pedrinho olhou pelo buraco da fechadura e viu o Antonino urinando sobre a pilha de queijos.

- Ah! Mas isso é demais! Por isso o mau cheiro, comadre! Bicho nojento!

- Pois é. Dizem que urina é ótimo para curar queijos.

- Credo! Que nojo!

Chegando à casa da parenta de Nivalda, passaram uma manhã agradável entre conversas e brincadeiras, ao meio-dia, almoçaram comidas típicas do Nordeste e beberam suco de umbu.

A tarde foi igual a parte da manhã, bem descontraída.

Por volta das três horas, as duas amigas prepararam-se para o retorno.

- Não sem antes fazermos um lanche. – disse a dona da casa.

Comeram biscoitos de Caruaru, bolo de macaxeira e, para variar, um gostoso queijo.

- Comam, comam à vontade! Deste, vocês nunca comeram. Vem diretamente do sertão pernambucano – falou a anfitriã, olhando para as visitas.

- De que casa do Norte você compra este queijo? Perguntou Nivalda.

- Bem, este queijo eu compro de um senhor que mora no Brás. Ele me garantiu que vem fresquinho do Nordeste.

- Ah, é? Qual o nome do vendedor?

- O nome dele... é ... deixe-me ver! ... é Antonino!

- Seu Antonino!!!? – responderam as visitantes arregalando os olhos.

- É. Por quê?

- Pois, nós o conhecemos!! – disseram as visitantes assustadas.

Despediram-se da dona da casa e foram embora. Ela não entendeu o motivo de tanta pressa. Se o lanche estava bom, poderiam comer um pouco mais!

Aos engulhos, Nivalda e Carmelita chegaram em casa. Não tiveram mais apetite para jantar naquela noite.

E queijo, nunca mais.