O destino de uma rosa
Desabrochou numa manhã de
setembro sob a brisa que soprava do Tietê. Os primeiros raios de sol revelaram
a beleza e o frescor próprios de quem nasce pra viver somente um dia.
À medida que a manhã subia as
últimas gotas de orvalho, embaladas pelo vento, secam. Mesmo assim, estava
radiante. Tão bela e tão frágil. Suspensa em uma haste, plantada em um
canteiro, bem próximo à calçada.
Provocou espanto quando vista
pela primeira vez. Afinal, na tarde anterior, era apenas um botão. Agora estava
ali, exposta à curiosidade e aos perigos da rua.
Foi admirada pela dona e pelos
vizinhos, pois era a primeira da temporada e correspondia aos cuidados e às
expectativas. Linda! Não iria pra um jarro, ficaria ali como presente às
borboletas, beija-flores, se existissem.
O garoto, mochila aos ombros, subia
a Rua Madalena Rampinelli quando em frente ao Bitencourt, parou. O barulho de
outras crianças que entravam na escola trouxe-lhe à mente um pedido da
professora de ciências na aula anterior: “tragam uma rosa de casa”.
Bem! Uma rosa. Onde iria
encontrar uma rosa àquela hora? Na casa dele nem se quer havia jardim! Quanto
mais uma rosa! O melhor seria gazear o primeiro horário pra escapar à fúria da
professora. Ela era rigorosa com os que não faziam as atividades.
O problema era o tempo. Quantos
minutos levaria pra chegar ao Dom Paulo? Cinco minutos, oito, no máximo. Faria um
jeito de chegar depois do início do primeiro horário. Assim o portão estaria
fechado, mas abriria para o segundo.
E o tempo? Como gastá-lo?
Em vez de seguir para a direita,
onde sairia direto na Avenida Guarulhos, virou à esquerda a fim de prolongar o
percurso.
Descia pela Rua José Damiani,
pensativo. Mas, de repente, levantou a vista e viu, além das grades, a rosa de
que tanto precisava. Porém, a rosa não era dele. Seria pouco provável que a
dana da casa desse uma flor tão bonita pra ser dessecada num laboratório. Sem
chance! Continuou descendo, sempre de cabeça baixa e pensando na rosa e na nota
zero que iria tirar em Ciências.
Trinta metros abaixo parou mais
uma vez. Não custava nada tentar. O máximo que poderia acontecer era ouvir um
não bem forte.
De frente à casa da rosa, bateu
palmas. Surgiu uma senhora cara um pouco irritada.
- Dona, me dê essa pra mim!
- Nem pensar! Pra que um menino
quer uma rosa?
- Eu preciso, dona. Vou fazer uma
atividade no laboratório de Ciências!
- Já disse que não!
- Dona, por favor, eu vou ficar
com zero se não levar uma rosa!
O discurso do garoto surtiu
efeito.
- Tá bem! Vou dar. Mas cuide bem
dela. Não deixe que ninguém arranque suas pétalas.
- Certo, minha senhora! Ninguém
encostará um dedo nessa flor!
Com a rosa na mão, desceu pela
Avenida Guarulhos. Enquanto esperava o semáforo fechar, olhou detalhadamente
pra ela. Levou-a ao nariz e sentiu o perfume suave que irradiava. Viu a
delicadeza de cada pétala.
Uma coisa tão bonita pra ser
dessecada em um laboratório. Nunca!
Naquele dia, a prima do garoto
recebeu o presente mais lindo da vida dela e a primeira declaração de amor.