Manhã de sábado. No fundo de casa, feira-livre, barulho, vai e vem de pessoas; na porta da frente, sobe e desce de veículos, pedestres.
Da janela do quarto, Pingo viu uma pipa que cruzou o céu tangida pelo vento.
Atirou-se para fora e correu pela rua.
Ruídos de pneus queimados no asfalto.
- Seu filho da mãe, quer morrer? Olha por onde anda, moleque! Você não tem amor à vida, não? Hein, ó meu?
Contra-reação:
- Vai se ferrar, babaca!Vê se não me enche, otário!
A mãe do garoto chegou à janela e disparou:
- Já ando com o credo na boca por causa desse menino. Eu não agüento mais essa vida. Ele me prega cada susto, meu Deus!
Pingo desceu pela rua Marquês de Olinda e subiu pela Professor José Munhoz. A pipa ganhou a direção do Cruzeiro. Mais à frente, o garoto encontrou um batalhão de outros moleques que disputava quem chegaria primeiro. Uma rajada de vento mais forte enxotou a pipa para o outro lado da Via Dutra. A perseguição continuou.
Alguém advertiu que atravessá-la seria perigoso.
- Que nada! A pipa vai ser minha. Eu tenho que atravessar de qualquer jeito. Disse o Pingo.
Conseguiu a façanha: atravessou o sentido São Paulo-Rio e aguardou no canteiro central o momento oportuno para cruzar a pista oposta.
Os outros também conseguiram a travessia e juntos com ele esperavam o momento certo.
A pipa prendeu-se aos arbustos do paredão ao lado da Borlem e ameaçava sair voando.
Rápido, como uma flecha, deslizou entre os carros e atravessou.
- Consegui! Consegui! Eu sou o maioral. Ela é minha! Conseguiiiiii!!
- Cuidado com o “Auto Expresso”, Pingo! Ele vai te pegar!
E pegou. Pegou em cheio o corpo franzino de Pingo. O corpo franzino amassou a lataria frontal do “Auto Expresso”. O “Auto Expresso” arremessou-o a metros de distância. O asfalto virou uma aquarela triste de miolos e sangue. No meio da Dutra, um corpo deformado. O que restou de Pingo.
infelizmente o final de Pingo não foi um final feliz... tudo isso por causa de uma pipa!
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