Quando cheguei ao bairro da Ponte Grande em dezembro de 1973, era apenas um adolescente de quinze anos e fui morar na Rua Ademar F. Ferrugem, na Vila Zamataro. Naquele tempo, com exceção da Rua Oito de Dezembro, as demais não possuíam qualquer tipo de pavimentação; o capim crescia solto nos terrenos baldios e, por vezes, invadia as calçadas. Era verão e as chuvas abundantes, por isso, os lamaçais dominavam todos os logradouros públicos da vila. Esse fato levava-os a praticarem verdadeiros exercícios de malabarismo ao se equilibrarem sobre os meios-fios a fim de chegarem às residências com os pés a salvo do barro.
Logo de início, o pessoal lá de casa incumbiu-me de uma tarefa matinal nada agradável para mim: comprar pão numa padaria que ficava no começo da Avenida Guarulhos, quase ao pé da velha ponte inacabada, numa das esquinas da Rua Vitória Calegari. Por sinal, era o primeiro estabelecimento comercial que se encontrava no lado direito, vindo da Penha para cá.
Eu era recém-chegado de outro estado e nada sabia a respeito dos hábitos, tampouco do vocabulário paulista. Sendo assim, quando me mandaram comprar uma “bengala” na padaria, questionei a maluquice de se comer um bastão de madeira no café da manhã. Diante de uma explicação mal dada e, certamente, maldosa, lá fui eu, comprar o tal pão com nome esquisito. Afinal, “manda quem pode; obedece quem tem juízo”.
Na padaria da avenida: ‘ – Meu Senhor, eu quero uma bengala de pão!’ – ‘ – Ora, vá pros raios que te partam. Já viste vender na padaria outra bengala que não seja de pão? Ora, veja!’ O breve mal entendido de minha parte causou risos entre os balconistas e fregueses que ali se encontravam.
De “bengala” embrulhada e com o rosto queimando de raiva, atravessei a Avenida e seguir pra casa. Na hora do café, desabafei. Por que não me explicaram direitinho que pão aqui tinha outro nome? Não poderiam ter me evitado passar vexames no meio de pessoas estranhas? Era assim mesmo, dali pra frente ficasse esperto. Tomasse atento às coisas. É com a escola da vida que mais se aprende.
Restabelecido do vexame da manhã, plantei-me à janela dos fundos e fiquei apreciando a paisagem urbana. Pouco conhecia, por isso, não identificava os limites entre Guarulhos e São Paulo. Pra ser sincero, achava que Guarulhos era um bairro da capital paulista e misturava áreas dos dois municípios em um território comum. Quem nasce e mora na Ponte Grande sabe que o Rio Tietê é a linha que demarca a fronteira entre os dois municípios, mas naquele tempo, eu não sabia nada disso.
Do ponto onde eu estava, via a grande tela do autocine Chaparral, na Avenida Condessa Elizabeth Rubiano, do outro lado do rio. Não compreendia por que construíram um autocine num lugar tão isolado. Só depois tive conhecimento que eram conveniências para os adultos. Realmente eram justificáveis os fins. Bem mais à esquerda do autocine, um frenesi de entra e sai de ônibus numa garagem me chamou atenção. Era a sede da Viação Leste/Oeste, a famosa Penha-Lapa. Os ônibus dessa empresa portavam cores azul e branco. Razão pela qual cheguei a confundi-los com os da antiga CMTC. Dias depois, meu irmão explicou-me que daquela empresa saiam ônibus que faziam uma das linhas mais extensas de São Paulo. Partiam do bairro da Penha, seguiam pela Radial Leste, atravessavam o centro da capital e paravam na Lapa. Devido ao longo percurso, apelidaram a empresa de Penha-Lapa.
Permaneci por muito tempo em minha torre de observação improvisada. Na várzea, nos confins da Vila Zamataro, um homem tomava banho nas águas de um rio. Aquela visão de alguém nadando em águas próximas encheu-me de alegria e esperança. Seria o lugar adequado para por em prática minhas qualidades de nadador das lagoas do agreste sergipano. Olhando um pouco além de onde o homem estava, estendia-se um tapete verde que cobria boa parte da várzea. Eram chácaras e mais chácaras até onde a vista alcançava.
À tarde, em conversa com outras pessoas, falei que avistei um homem nadando lá embaixo, num rio perto das chácaras. Não era novidade pra ninguém que um louco das redondezas tomasse banho nas águas poluídas do Rio Cabuçu. Aconselharam: não tome banho ali. As águas são muito sujas e podem transmitir várias doenças. Entre elas, hepatite, micose e, quem sabe, até leptospirose. Com aquela conversa desanimadora de doenças, tratei de suspender meus planos de natação, pelo menos naquele momento.
imagino como vc ficou depois de ter passado por um vexame desse,KKKK, mas tbm que nome para se dar a um pão BENGALA!!! eu eim...
ResponderExcluirÉ GILBERTO, VÊ SÓ COMO SÃO ASCOISAS, VOCÊ FOI COMPRAR SEU PÃOSINHO DE CADA DIA E ACABOU PASSANDO VEXAME. HEHEEHEH!!! MAS TUDO ISSO FAZ PARTE DA VIDA, SÓ NÃO ESQUEÇA DE NÃO TOMAR BANHO NO TIÊTE PORQUE AI SUA SITUAÇÃO FICARIA FEEEEIA!KKKK... ESTOU ANCIOSA PARA LER MAIS UM CONTO...XAU
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